Era uma caixa de madeira escura,
Sem chave e sem fechadura.
E pra quem tava dentro, a situação
era dura.
Uma cabeça despregada de sua
estrutura.
De vez em quando eu abro a caixa,
E a cabeça morta relaxa.
Já não escuta, já
não fala, já não cheira, já não vê.
A cabeça está nua, sem
mortalha ou faixa.
O tempo passa e eu preciso esconder a
caixa.
E a cabeça passeia embaixo do
braço.
Procurando um espaço onde eu
possa desová-la.
A cada minuto uma cor mais violácea.
Num instante andando na praia.
Quem sabe na areia, ou no fundo do mar.
Mas a caixa bóia e o vento sopra
e descobre
A cabeça dentro da caixa.
Num corte seco e profundo,
Parei na cozinha de um restaurante
No mesmo instante que alguem prepara
Os pertences pra uma feijoada.
E mostro-lhe a caixa com seu
ingrediente.
E sou avisado que a carne é
amarga,
e que tenho que seguir em frente.
- Nessa panela não cabe mais
gente.
A aflição aumenta e a
cabeça agora fala.
Preciso encontrar uma vala,
Um bueiro certeiro que dê guarida.
Uma boca de lobo que fique calada.
Procuro na rua algum porta mala,
Um beco secreto, um pico discreto,
Um forno, um formol, um vaso insuspecto
Pois a cabeça na caixa já
bate no teto.
E aumenta a agonia
da cabeça fria.
Acendo um cigarro
E o sol ascendia.
O vento bufava violento
Batendo as janelas e as portas feito
trovão
E eu e a cabeça numa poça
de lama
Despertos do sonho em cima da cama
E desço a cozinha e tomo café
E a caixa invisível não
some
Nem com reza, nem com figa
Ela acompanha meu dia
Uma cabeça indigesta
No meio da barriga
Entalada na garganta
Feito um prego no sapato
E a sensação de pesadelo
E o engasgar de cabelos
E os caninos, e a barba
E o silencio defunto, o sangue seco
E a sombra, e a cera do ouvido
Permanecem comigo
Nenhum comentário:
Postar um comentário